O Dia Mundial da Saúde, celebrado nesta quinta-feira (7/4), tem como tema “Nosso planeta, nossa saúde”. O objetivo é conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação e práticas sustentáveis para a melhoraria da qualidade de vida.
Embora nas últimas décadas, a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico levaram a melhorias na qualidade de vida das pessoas em muitas regiões, dados da Organização Pan-Americana da Saúde 2021 mostram que 1 milhão de mortes prematuras por ano em toda América ainda são atribuíveis a riscos ambientais conhecidos e evitáveis. De acordo com o relatório, a poluição do ar, a água contaminada, o saneamento inadequado (incluindo gestão de resíduos sólidos) e os impactos negativos relacionados à mudança climática são as ameaças ambientais mais urgentes à saúde pública na região.
Entre as consequências, a poluição do ar doméstico e ambiental representa quase 320 mil mortes evitáveis por ano em toda América ao provocar enfermidades como acidentes vasculares cerebrais (AVCs), doenças cardíacas, pulmonares e cânceres. Dados que ficam ainda mais preocupante ao olharmos para o quesito saneamento básico. Neste cenário, como podemos avançar em práticas sustentáveis capazes de promover impactos positivos para a saúde e bem-estar da população?
Especializada na área do meio ambiente, Roberta Costa e Lima, engenheira florestal e docente do curso de Arquitetura e Urbanismo no IESB explica que, no Brasil, avançar em práticas sustentáveis e políticas públicas significa, principalmente, olhar para os centros urbanos. “Somos um país em que 84% da população vive em cidades e, na maioria das vezes, em locais que não estão preparados para receber tantas pessoas. Logo, muita gente vai morar em áreas de riscos ou locais que não existem saneamento básico, nem coleta de esgoto, água tratada ou, muito menos, coleta de lixo. E esses resíduos acabam sendo jogados na natureza causando impacto muito negativo, como a poluição. Se tivéssemos mais saneamento básico para a população, já melhoraria muito. O serviço é fundamental para evitar contaminação do solo, das áreas hídricas e do ar”, explica.
No Brasil, 100 milhões de habitantes vivem sem coleta de esgoto, segundo estudo do Instituto Trata Brasil, feito com dados do Ministério do Desenvolvimento Regional. A pesquisa, divulgada em abril de 2022, aponta que o país ainda tem dificuldade histórica com o tratamento do esgoto, do qual somente 50% do volume gerado são tratados. Isto seria o equivalente a mais de 5,3 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento sendo despejadas na natureza diariamente.
O estudo aponta ainda o quanto o problema do saneamento é um quesito que revela desigualdades sociais no Brasil. Para ter uma ideia, enquanto apenas 5,16% da população de Porto Velho conta com serviço de coleta de esgoto e 32,9% têm acesso a água tratada, Brasília, por exemplo, ocupa posição de destaque. No indicador de atendimento total de água, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) alcançou a marca de 99%, enquanto o indicador de atendimento total de esgoto mostrou que 90,90% dos habitantes do DF têm coleta de esgoto.
Áreas verdes e florestas urbanas
Entre as práticas ambientais para melhorar a saúde também está a preservação e inclusão de espaços verdes. O aumento de áreas devidamente planejadas, com vegetação rasteira e arborização, auxiliam na regulação do microclima e na drenagem das águas pluviais. “Locais arborizados têm diminuição de 3 a 5 graus de temperatura em relação a locais que não são. Logo, a criação desses espaços são iniciativas muito importantes, pois geram bem-estar e auxiliam na melhora do ambiente urbano”, orienta Roberta.
Além de espaços verdes, é muito importante ter atenção em relação ao lixo. “As pessoas precisam diminuir a geração de resíduos e evitar o excesso em casa, nas empresas e construções, além, de adotar práticas seletivas. Enquanto o lixo seco, quando devidamente separado, pode se transformar em inúmeros materiais recicláveis, o lixo orgânico, por exemplo, pode virar adubo de excelente qualidade. No entanto, o sucesso dessas práticas depende de uma conscientização coletiva, que envolve o público e o privado em prol de um mundo melhor e mais saudável a todos”, completa a professora.
Conscientização além da sala de aula
No IESB, entre as ações socioambientais transformadoras está o Projeto Fênix. Realizado com a participação dos alunos e coordenado pelo curso de Serviço Social da instituição, a iniciativa faz parte do Núcleo de Responsabilidade Social do IESB e tem como objetivo apoiar as cooperativas de catadores ao promover a formação desses profissionais e conscientizar a sociedade sobre o descarte correto do lixo.
O projeto tem três frentes: o Fênix vai às escolas, com objetivo de levar mais educação sobre o descarte responsável e o quanto este hábito pode impactar o planeta, inclusive nas rendas dos catadores; A voz do cooperado, divulgando pautas das cooperativas e abrindo espaços para debates sobre os impactos desses resíduos no meio ambiente e na saúde; e o Sebo Solidário, campanha de arrecadação de livros, destinados às cooperativas. “Quando nós entendemos a complexidade da política nacional dos resíduos sólidos, passamos a analisar e olhar todo o clico do lixo, desde a produção e reciclagem, pela questão econômica, socioambiental, de saúde e qualidade de vida. Afinal, a produção do lixo doméstico implica a responsabilidade de cada cidadão. Por isso, seu direcionamento deve ser analisado para o bem-estar coletivo”, conclui a professora Erci Ribeiro, coordenadora do Projeto Fênix e professora de Serviço Social no IESB.