Muito se fala sobre o que é PcD (Pessoa com Deficiência), mas essa resposta foi modificada nos últimos cinco anos com a vigência do Estatuto da Pessoa com Deficiência no Brasil. Falamos da lei nº 13.146 de 2015, que estabelece as principais diretrizes que garantem, minimamente, a inclusão da PcD no contexto social, bem como o direito básico da cidadania na busca da igualdade de condições com os demais integrantes da sociedade.
Obviamente, não falo da igualdade absoluta, física, morfológica ou cognitiva. A igualdade a que me refiro é a de acesso a direitos e oportunidades com a proteção da autonomia e da esfera existencial de qualquer indivíduo – PcD, ou não. A sensibilização para a inclusão de pessoas com deficiência é, portanto, o primeiro passo para a inclusão.
Quando me refiro à inclusão, digo em todos os ambientes sociais e culturais, que vão além, por exemplo, do mercado de trabalho – ainda que dados apontem que são mais de 12 milhões de PcDs no Brasil. Entretanto, eles ocupam 441 mil vagas, o que representa apenas 1% dos vínculos de trabalho formal no país. Este levantamento evidencia uma cruel realidade com essas pessoas.
Mas a pessoa com deficiência não quer ser lembrada somente no ambiente de trabalho, preenchendo a cota mínima para funcionários PcDs. Querem e devem ser lembradas em festivais de música, cinema, restaurantes, bares, parques e todo e qualquer espaço do qual ela queira participar. Além da inclusão, é necessário garantir a autonomia e a acessibilidade das pessoas com deficiência.
E quanto à humanidade é importante perceber alguns detalhes que, muitas vezes, passam despercebidos no trato da pessoa com deficiência. Por exemplo, para uma pessoa sentada é incômodo ficar olhando para cima por muito tempo. Portanto, ao conversar por mais tempo com uma pessoa que usa cadeira de rodas, se for possível, lembre-se de sentar, para que você e ela fiquem com os olhos no mesmo nível. A cadeira de rodas (assim como as bengalas e muletas) é parte do espaço corporal da pessoa, quase uma extensão do seu corpo. Apoiar-se na cadeira de rodas é desagradável e invade o espaço pessoal do indivíduo, por exemplo.
Quando falamos de deficiência visual, é bom saber que nem sempre as pessoas precisam de ajuda. Sendo assim. Procure não chegar ajudando ou empurrando. Ofereça ajuda e, em caso afirmativo, pergunte qual a melhor forma de ajudá-la. Lembre-se de que o ser humano precisa ter seu espaço respeitado. Esteja também atento e sensível para a existência de barreiras arquitetônicas quando for escolher uma casa, restaurante, teatro ou qualquer outro local que queira visitar com uma pessoa com deficiência física.
A paralisia cerebral é fruto da lesão cerebral, ocasionada antes, durante ou após o nascimento, causando desordem sobre os controles dos músculos do corpo. A pessoa adulta com paralisia cerebral não precisa ser infantilizada, nem é portador de doença grave ou contagiosa. É importante tratar a pessoa com paralisia cerebral com a mesma consideração e respeito que você usa com as demais pessoas.
Como as deficiências muitas vezes não têm como ser eliminadas e a sociedade não é amplamente adaptada para as PcD, possibilitar a “acessibilidade” ou a inclusão das PcD vai muito além, simplesmente do “adaptar” a realidade para estes cidadãos. É necessário, primeiro, o entendimento sobre acessibilidade e mobilidade para as Pessoas com Deficiência (PcD), indo além do simples cumprimento de exigências legais sem a menor efetividade. É preciso ampliar o olhar, enxergar com o coração e colaborar para que não só o ambiente físico seja ideal para esses indivíduos, mas também as relações interpessoais.
*Ester Pacheco é presidente da Fenapestalozzi, entidade que atua nacionalmente na discussão das legislações e na defesa das pessoas com deficiência
As opiniões expressas nos artigos são de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo necessariamente a opinião do portal Saúde Brasília.