Em um desabafo emocionado em seu instagram na semana passada, a atriz e apresentadora Tatá Werneck comentou sobre como a tristeza por conta da morte do amigo Paulo Gustavo a fez chegar aos 40 quilos. “Quando estou triste perco a fome. Fiz vários exames para saber se era uma questão apenas emocional e realmente não é nada físico. Cheguei aos 40 quilos, tinha que me forçar a comer, tomar umas coisas saudáveis e agora ganhei dois quilos. Mas as pessoas me viam e me davam parabéns por eu estar muito magra. As pessoas achavam que estava ótimo daquele jeito, mas não estava saudável, eu tava deprimida”.
Para a psicóloga do Instituto de Psiquiatria da USP e coordenadora do AMBULIM (Programa de Transtornos Alimentares/IPQ-HCFMUSP), Valeska Bassan, esse relato é bastante preocupante, porém muito comum nos dias atuais. A busca pelo “padrão de beleza” insaciável, a necessidade de se adequar a moldes exigidos sem responsabilidade, só aumenta cada vez mais o índice de transtornos alimentares em todo mundo.
No Brasil, 4,7% da população (aproximadamente o dobro da taxa mundial) têm algum tipo de transtorno alimentar, sendo mais recorrente entre jovens de 14 a 18 anos. Um levantamento realizado pela Secretaria de Estado da Saúde (SP) revela que 77% das jovens em São Paulo apresentam propensão a desenvolver algum tipo de distúrbio alimentar, como anorexia, bulimia e compulsão por comer. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA) atinge em torno 2,6% da população do mundo.
“Nem todo magro é saudável e nem todo gordo está doente, muito pelo contrário. O importante é estar saudável, feliz consigo e com seu corpo, e se isso custar a sua saúde mental, não valerá a pena mesmo. Em nenhuma hipótese devemos comentar ou expor sobre o corpo do outro. Isso diz respeito a cada um.”, comenta a especialista.
De acordo com Valeska, as redes sociais têm um papel importante no desencadeamento dos transtornos, uma vez que muitos influenciadores supervalorizam a magreza e o corpo perfeito, tornando-se um gatilho para esses seguidores. “É fundamental uma pessoa como a Tatá vir a público expor sua dor. Não existe uma causa específica para os transtornos, é uma combinação de fatores que varia caso a caso e afeta outros aspectos da vida do paciente. Reforçar a magreza por meio da dor que uma pessoa está passando, é desumano, e para muitos jovens, a internet é o seu “norte”, o que torna isso ainda mais perigoso”, finaliza a psicóloga.