Mesmo com toda a ansiedade que cerca a gestação, nenhuma mãe gostaria que seu filho nascesse antes da hora. Mas, nem sempre isso é possível. No Brasil, a taxa de prematuridade é de 11,5%, uma das mais altas do mundo, com o nascimento de mais de 300 mil bebês prematuros por ano.
Quem entra nessa estatística precisa, praticamente, morar dentro do hospital, já que os bebês não recebem alta enquanto não atingirem peso e condições ideais de saúde para irem para casa. É aí que entra o método Canguru, oferecendo alojamento para mulheres que precisam acompanhar seus filhotinhos.
“Esses leitos são importantes para manter o vínculo entre a mãe e o bebê. Ela não é visita, é mãe e precisa ter acesso ao seu filho nas 24 horas do dia. A proximidade facilita o aleitamento materno e aumenta a produção do leite. Estudos comprovam que o cheiro, a voz e a presença da mãe ajudam o recém-nascido a se desenvolver melhor”, explica a terapeuta ocupacional e uma das tutoras do método no Hospital Regional de Ceilândia, Helen Delchova.
São dois tipos de espaço: o Mãe Nutriz, onde, normalmente, ficam as mulheres com bebês internados em UTI neonatal; e a Unidade de Cuidados Intermediários Canguru (Ucinca), onde as mães já ficam acompanhadas dos bebês.
“Na Ucinca, a gente costuma dizer que é uma preparação para a mãe e o bebê irem para casa. O recém-nascido fica totalmente sob os cuidados da mãe e os profissionais de saúde dão apoio”, conta a fonoaudióloga e também tutora do Método Canguru no Hospital Regional de Taguatinga, Caroline Ribeiro da Silva.

PRÁTICA – Apesar das oficinas de terapia ocupacional, oferecidas nos hospitais onde há o Método Canguru, e do apoio com equipe multiprofissional, que inclui psicólogos, mudar-se para o hospital não é fácil para as famílias.
Que o diga a jovem Ketley Caroline Rodrigues, 21 anos, que esperava a pequena Manoela para o Natal, mas acabou recebendo o presente no Dia das Crianças. “Foi uma surpresa quando minha filha nasceu com 30 semanas de gestação. Quando me falaram que eu teria de passar um tempo no hospital, fiquei tranquila. Mas depois de dois meses aqui, é muito agoniante”, diz ela, que aproveita enquanto a pequena dorme para sair do quarto pelo menos para comer.
De fato, a tutora Caroline Ribeiro ressalta que estar na Ucinca é estressante. “A maioria já fica um tempo com o bebê na UTI e quando ele sai de lá, a mãe já espera ir para casa, mas precisa passar pela unidade e fica ansiosa pela alta. No entanto, a saída varia para cada recém-nascido, pois depende da evolução dele. Principalmente, no quesito ganho de peso e se consegue se alimentar no peito da mãe”, explica a fonoaudióloga.
Depois de quase cinco meses no hospital, Érika Pereira já estava ansiosa pela alta. Enquanto nossa equipe a entrevistava, ela já preparava a malinha para levar a pequena Maria Alice para casa pela primeira vez.
“Ela nasceu com 25 semanas. Ficou três meses e 28 dias na UTI. Depois, viemos para a unidade e ficamos um mês e logo ela precisou fazer uma cirurgia de hérnia”, lamenta a jovem de apenas 17 anos, que precisou largar os estudos para se dedicar integralmente à filha prematura.

FAMÍLIA – O Método Canguru ainda incentiva a participação de outros membros da família. “Ficar com a criança, somente a mamãe, mas é importante que o pais, principalmente, faça parte deste momento”, observa Caroline.
Na Unidade Canguru, José Francisco não larga a filha, Sara Letícia. Busca aproveitar o tempo que pode, enquanto visita, para ficar com ela nos braços. Até se arrisca a colocá-la na “bolsinha” de Canguru, que não é exclusividade da mamãe Diana de Oliveira.
OCUPAÇÃO – Para ajudar a passar o tempo, as equipes multiprofissionais desenvolvem atividades com as mães, que precisam estar bem para ajudar no desenvolvimento das crianças.
No HRC, grupos terapêuticos desenvolvem atividades laborativas, bingo e um projeto de visita dos irmãos, em que autorizam crianças a entrar na unidade para conhecer o novo membro da família. “Estamos iniciando um projeto-piloto de práticas integrativas com essas mulheres. No caso, inicialmente, com automassagem”, adianta Helen Delchova.
No Hospital Regional de Taguatinga, além das oficinas com as mães, os projetos se estendem às famílias também, que participam de reuniões semanais para orientações em relação ao trato com o recém-nascido e um momento para tirar dúvidas.
(Alline Martins, da Agência Saúde/GDF)