Exercícios como o pilates preparam o abdome e o assoalho pélvico; treinamento da musculatura pélvica diminui em até 50% a ocorrência da incontinência urinária pré-natal
A gravidez é um momento bastante especial na vida das mulheres e é natural que, durante esse período, elas reforcem os cuidados com a saúde. Quando o assunto é atividade física, muitas gestantes interrompem os exercícios com receio de complicações obstétricas, principalmente no último trimestre. Porém, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) recomenda que todas as grávidas saudáveis pratiquem, no mínimo, 150 minutos de exercícios de moderada intensidade por semana. A recomendação não é a mesma para aquelas portadoras de doenças cardiovasculares. As gestantes cardiopatas carecem de uma avaliação mais aprofundada para estratificação de risco tanto para a mulher quanto para o bebê.
Evidências científicas comprovam que, em mulheres sem contraindicações, a atividade física é benéfica durante toda a gestação e não há relação entre os exercícios e questões envolvendo o nascimento como, por exemplo, desenvolvimento de anomalias congênitas, parto prematuro ou baixo peso.
Ao gerar uma nova vida, o corpo feminino passa por um turbilhão de transformações que vão desde alterações hormonais até mudanças anatômicas que levam à hiperlordose lombar, afrouxamento da cintura pélvica, retenção de líquidos e aumento de peso. Tudo isso desencadeia uma sobrecarga na coluna vertebral, fazendo com que a lombalgia surja em 60% das gestantes. Quem nunca ouviu uma grávida reclamar de dores nas costas? Nesse sentido, os exercícios físicos são excelentes, pois ajudam na redução da massa gorda.
Mas as vantagens para as futuras mamães não estão apenas no controle de peso. Segundo estudo divulgado pela SBC, a prática regular de exercícios diminui em torno de 50% o risco de diabetes gestacional e em até 40% o risco de pré-eclâmpsia, hipertensão arterial gestacional e depressão. Além disso, os bebês também são beneficiados. Por aumentar a transferência de oxigênio e reduzir a difusão de dióxido de carbono por meio da placenta, as atividades físicas melhoram o desenvolvimento fetal.
Gestantes cardiopatas
A literatura científica não oferta muitos estudos quanto à prática regular de exercícios físicos para gestantes com doenças cardiovasculares, até porque essas patologias são bastante complexas. Dessa forma, a liberação das grávidas para a atividade física deve ser baseada principalmente na avaliação do risco cardiovascular para evolução da gravidez.
O acompanhamento do cardiologista é extremamente importante pois, durante a gestação, as mudanças ocorridas no corpo da mulher são dinâmicas e se assemelham a uma prova de esforço que desencadeia alterações cardiovasculares e sistêmicas que podem descompensar a estabilidade da doença cardíaca.
Graças a essas alterações fisiológicas, é habitual que grávidas relatem maior sensação de palpitação ao repouso e tontura pós-esforço. E esses apontamentos devem ser considerados fatores de predisposição para a descompensação de cardiopatias preexistentes.
Portanto, no caso das cardiopatas, o risco da prática de exercícios físicos deve ser estratificado levando em consideração possíveis complicações. Para isso, é necessária uma abordagem mais próxima e detalhada, composta por exames específicos como saturação de oxigênio, holter e ecocardiograma.
Contraindicações para atividade física durante a gravidez
As contraindicações podem surgir tanto por causas clínicas quanto por causas obstétricas. Além disso, podem ser absolutas – ou seja, eliminação total das atividades físicas – ou relativas.
Entre as causas clínicas que tornam os exercícios físicos contraindicados para as grávidas estão hipertensão arterial crônica não controlada ou pré-eclâmpsia, doença cardiovascular grave, doença pulmonar restritiva, diabetes melito tipo I ou doença da tireoide não controladas. Já as gestantes que sofrem com doença hipertensiva da gravidez, doença cardiovascular ou pulmonar de leve a moderada; obesidade extrema, desnutrição, transtorno alimentar ou anemia sintomática, devem ser avaliadas individualmente.
Quanto às causas obstétricas, está contraindicada a prática regular de exercícios físicos para gestantes com rotura da membrana, trabalho de parto prematuro, placenta prévia após 28 semanas de gestação, gravidez múltipla com três ou mais bebês; sangramento vaginal persistente inexplicado; incontinência istmo-cervical; e restrição de crescimento intrauterino. Entre as contraindicações relativas estão antecedentes de parto prematuro, perda recorrente de gestação e gravidez gemelar a partir da 28ª semana.
Tipos de exercícios
O estudo também estabelece quais os tipos mais adequados de exercícios físicos durante a gestação. As atividades aeróbicas consideradas seguras são aquelas de baixo impacto como, por exemplo, pedalar em bicicleta ergométrica, caminhar, nadar ou fazer hidroginástica (as atividades aquáticas são apontadas como preferenciais). A intensidade desses exercícios deve ser estabelecida pelo médico e pelo educador físico ou fisioterapeuta que acompanham a paciente.
Mulheres que já eram ativas antes da gravidez podem manter o ritmo. Já as sedentárias que engravidam e optam por iniciar a prática de atividades físicas, devem iniciar com 15 minutos de exercícios aeróbicos três vezes por semana, aumentando a frequência até chegar à recomendação de 150 minutos semanais.
Há, também, os exercícios físicos resistidos como musculação, treinamento funcional, pilates e ioga, responsáveis por aumentar o tônus, a força e a resistência muscular e que, portanto, auxiliam na adaptação da mulher às alterações posturais desencadeadas pela gestação e na redução das dores e prevenção de eventuais quedas. Segundo o estudo, o treinamento regular de força aumenta em até 14% a resistência lombar nas gestantes.
Ioga e exercícios de alongamento suave devem ser realizados com cautela, mas promovem relaxamento muscular e são úteis para aliviar a famosa dor nas costas. Já o pilates prepara o abdome e o assoalho pélvico, ajudando no trabalho de parto e reduzindo o risco de incontinência urinária. Segundo a SBC, o treinamento da musculatura pélvica diminui em até 50% a ocorrência da incontinência urinária pré-natal e 35% no período pós-natal.
As evidências recomendam que as gestantes pratiquem exercícios físicos resistidos cerca de 20 minutos por dia, de três a cinco vezes por semana, em intensidade moderada. Aqui, para aquelas que optam pela musculação, há preferência pelo uso dos equipamentos em vez de trabalhar com pesos livres. Isso porque o centro de gravidade muda e as máquinas facilitam o equilíbrio. Importante destacar que cargas de peso muito altas, assim como isometria intensa, não são recomendadas.
Não há uma indicação precisa para interrupção dos exercícios, porém no final do último trimestre eles devem ter intensidade leve. Além disso, caso surjam sintomas como respiração curta que não passa com repouso, dores de cabeça, contrações regulares e dolorosas, sangramento vaginal, perda do líquido amniótico, desmaio, tontura, dor no tórax, palpitações, distúrbios visuais, náuseas, vômitos, sinais de fraqueza e perda de equilíbrio, os exercícios devem ser interrompidos e o médico consultado.
Pós-parto
É natural que as mulheres reduzam as atividades físicas após o parto, visto que há toda uma dedicação aos cuidados com o bebê. Porém, é preciso saber que o sedentarismo contribui para o sobrepeso e a obesidade, facilitando o aparecimento de outras comorbidades como diabete e doenças cardiovasculares.
Portanto, manter os exercícios após o nascimento traz benefícios para a condição cardiorrespiratória, reduz a fadiga, melhora a qualidade do sono e diminui o risco de depressão, condição que afeta de 10% a 15% das mulheres no primeiro ano de vida da criança.
O retorno às atividades deve ser seguro, considerando sempre o tipo de parto e se houve alguma complicação cirúrgica. A orientação base é que a mulher volte a se exercitar em torno de quatro semanas após o parto vaginal e seis semanas após a cesariana.
Pacientes cardiopatas têm algumas particularidades no pós-parto, quando ocorre alteração significativa da volemia (circulação sanguínea), que pode levar à descompensação clínica. Portanto, as atividades físicas devem ser prescritas à essas pacientes levando em consideração as diretrizes e os princípios sobre cada cardiopatia específica, sempre os adaptando para minimizar os riscos e maximizar os benefícios. Nenhum exercício deve ser prescrito até que a doença cardiológica seja controlada. Importante que a avaliação seja feita pelo obstetra em parceria com o cardiologista.
As complicações cardíacas mais frequentes no intraparto e no puerpério da paciente cardiopata são pré-eclâmpsia, insuficiência cardíaca, edema agudo pulmonar, arritmias, tromboembolismo e dissecção de aorta. Entre as obstétricas, incluem-se principalmente hemorragia e infecções.
Grávidas x Exercícios Físicos x Pandemia de COVID-19
Durante a pandemia de COVID-19, a prática de exercícios físicos pelas gestantes precisa de cuidados adicionais. A sugestão é que as atividades sejam feitas preferencialmente em casa, visando reduzir o risco de contaminação. Para isso a supervisão de um profissional de forma remota – por meio dos serviços de videoconferência – pode ser uma excelente alternativa. Ao optar por atividades externas, devem dar preferência a lugares abertos e com baixa circulação de pessoas e ao uso de máscara facial.
Caso a gestante seja infectada pelo novo coronavírus, qualquer atividade física somente poderá ser retomada após avaliação médica e realização de eletrocardiograma, já que a COVID-19 pode provocar lesão miocárdica e arritmias secundárias.
Referência:
Posicionamento sobre Exercícios Físicos na Gestação e no Pós-Parto – 2021