Se para a população em geral a covid-19 pode ser uma doença devastadora, pessoas com deficiência enfrentam desafios ainda maiores. Trata-se de pacientes que, em geral, são mais protegidos em momentos como este de pandemia, mas considero importante trazer algumas orientações relacionadas ao seu bem-estar.
Recebemos no consultório diversas queixas referentes ao quadro de “covid longa”, ou seja, um enfrentamento duradouro das sequelas trazidas tanto pelo vírus quanto pelo longo período de internamento. São lesões tanto crônicas quanto passageiras, passando pelas motoras, sensoriais e cognitivas, com muitos casos de perda de força, queixa respiratória, dores não localizadas, enxaquecas e perda de memória.
No caso de cadeirantes ou pacientes crônicos, tem sido observado o aumento da espasticidade e fraqueza muscular, bem como muitas queixas respiratórias, assim como o aumento na frequência de crises convulsivas e alteração de paladar e olfato.
Aqui deixo uma sugestão: como os pacientes com deficiência, muitas vezes, têm dificuldade em relatar onde está sua queixa, é importante pedir ao cuidador, aos pais ou quem está perto para relatar se o paciente tem estado mais irritado, apresenta muito choro, se tem dor quando encostamos em certas partes do corpo – todas manifestações da covid longa. Também têm sido observadas crises de ausência, por vezes já tratadas no passado e que voltam a ser frequentes.
As doenças neurológicas também aumentaram por conta da covid, e um dos motivos em estudo são as “tempestades de citocinas”, molécula que auxilia na recuperação do corpo. E como a covid é sistêmica, ela afeta sistemas que não seriam afetados normalmente, e isso pode trazer lesões. Existem ainda outras justificativas sendo estudadas, em que se incluem os efeitos da covid entre crianças e jovens adultos, que têm se mostrado mais agressivos.
No caso de pacientes com Síndrome de Down, Autismo, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Síndrome de Rett, entre outras condições, verifico que os pacientes com lesões já existentes apresentam relatos de alucinações, mesmo entre jovens, além da convulsão e da sensação de “névoa” no cérebro, como se fosse necessária mais energia para fazer as mesmas tarefas.
Seja qual for a condição, hoje existe um protocolo de atendimento desde o momento em que a pessoa sai do hospital, com encaminhamento ao cardiologista, neurologista e médico respiratório. Os médicos estão orientados a encaminhar também à reabilitação, e o ideal é que ela seja multidisciplinar, com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo.
Por fim, uma lembrança: os pacientes que não foram internados ou mesmo assintomáticos também apresentam alterações ligadas à covid longa. É preciso estar muito atento a qualquer manifestação fora do normal e procurar o médico para encaminhamento. E para pessoas com deficiência, mesmo após a vacinação é preciso manter os cuidados sanitários, com uso da máscara e higienização das mãos – especialmente entre pacientes que levam muito as mãos à boca. Com atenção a todos esses detalhes, teremos uma proteção bem maior para aqueles que amamos.
* Syomara Cristina Szmidziuk atua há 31 anos como terapeuta ocupacional, e tem experiência no tratamento e reabilitação dos membros superiores em pacientes neuromotores. Faz atendimentos em consultório particular e em domicílio para bebês, terapia infantil e juvenil, para adultos e terceira idade. Desenvolve trabalho com os métodos RTA e terapia da mão, e possui treinamento em contenção induzida, Perfetti (introdutório), Imagética Motora (básico), Bobath e Baby Course (Bobath avançado), entre outros.
As opiniões expressas nos artigos são de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo necessariamente a opinião do portal Saúde Brasília.