Não é segredo que a positividade é vista como uma das maiores virtudes da sociedade moderna. Nas redes sociais, a pressão para exibir um estilo de vida perfeito e feliz é constante, e as mensagens motivacionais são vendidas como a chave para o sucesso e a felicidade. No entanto, quando a positividade se torna tóxica, extrapolando o real, ela pode ser mais prejudicial do que benéfica.
A positividade tóxica se refere à crença de que a única maneira de superar um problema é através de uma atitude positiva, ignorando sentimentos negativos. Isso leva a uma negação da realidade e pode resultar em sentimentos de culpa e inadequação quando não se consegue manter essa positividade o tempo todo.
A positividade real, por outro lado, é a prática de encarar os desafios e situações da vida de forma saudável, procurando o equilíbrio entre emoções positivas e negativas. Isso envolve a aceitação de emoções negativas, como tristeza e raiva, sem o apego a elas, e a busca por soluções práticas para lidar com essas emoções.
A positividade real nos ajuda a desenvolver mais resiliência emocional, o que nos permite enfrentar os desafios da vida com mais facilidade, sem negar a realidade ou cair nas armadilhas da positividade tóxica.
Estudos indicam que as pessoas que praticam a positividade tóxica têm mais probabilidade de experimentar estresse e ansiedade, e menos probabilidade de buscar apoio social. Além disso, a negação de emoções negativas pode levar a problemas de saúde mental mais graves, como a depressão.
A positividade real, por outro lado, tem sido associada a uma melhor saúde mental e física. As pesquisas mostram que pessoas que têm uma atitude positiva realista têm menos probabilidade de sofrer de depressão e ansiedade, e mais probabilidade de ter uma vida saudável e feliz.
Então, como podemos praticar a positividade real? Em primeiro lugar, precisamos aceitar que a vida nem sempre é perfeita, e que experimentar emoções negativas é uma parte natural do ser humano. Em vez de negá-las, precisamos aprender a lidar com elas de forma saudável, por exemplo, falando com amigos e familiares, procurando suporte psicoterapêutico quando necessário, ou participando de atividades que nos fazem sentir bem.
Também é importante ter autocompaixão e cuidar de nós mesmos – o chamado autocuidado. Isso inclui ser gentil consigo mesmo, dormir bem, fazer exercícios regularmente, comer de forma saudável e reservar tempo para atividades que nos dão prazer.
A positividade real não é um caminho fácil ou rápido para a felicidade. É um processo que requer prática e comprometimento, mas os benefícios a longo prazo para a saúde mental e física valem o esforço.
Importante lembrar que nem todos têm os mesmos recursos e acesso aos cuidados de saúde mental. Em muitos casos, a prática de uma positividade real pode exigir recursos que nem todos possuem, como por exemplo, o acesso à psicoterapia. Daí a importância de que nossos governos garantam o acesso universal aos cuidados de saúde mental e a serviços de apoio para que todos possam se beneficiar de uma abordagem saudável orientada a uma vida positiva.
A positividade real nos ajuda a navegar na complexidade da vida, encontrando um equilíbrio saudável entre as emoções positivas e negativas. Entender que a vida é dinâmica e que nos oferece experiências enriquecedoras das mais variadas formas é também um sinal de maturidade e saúde mental.
*Andrés Gianni, educador e comunicador, é especialista pós-graduado em Psicologia Positiva e em outras áreas do conhecimento, como Neurociência do Desenvolvimento, Neuropsicopedagogia, Psicanálise Clínica, Psicologia Organizacional e do Trabalho, Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Gerencial, e Docência e Prática da Meditação. Membro da Associação de Psicologia Positiva da América Latina (APPAL) e da International Positive Psychology Association (IPPA), Andrés Gianni realiza palestras e treinamentos de desenvolvimento humano em diversas instituições e empresas nacionais e multinacionais. Contato: andresgianni@gmail.com