Com o objetivo de fomentar o debate sobre longevidade ativa, o Grupo Bradesco Seguros promoveu no último dia 3, em São Paulo, a 16ª edição do Fórum Internacional da Longevidade.
Realizado no Teatro Bradesco, e tendo a “Cultura do Cuidado” como tema central, o evento reuniu especialistas de diversas áreas, assim como renomadas artistas 60+, para compartilhar conhecimentos e experiências sobre envelhecimento.
O evento começou com a apresentação da cantora Thalita Pertuzatti, que interpretou um medley de sucessos de Whitney Houston, deixando empolgada a plateia do espaço cultural. Logo em seguida, a atriz e apresentadora Cissa Guimarães, mestre de cerimônias do evento, abriu as atividades, dando destaque ao aumento da expectativa de vida no Brasil, que cresceu de 72,3 anos em 2006 – ano da primeira edição do Fórum –, para 76,2 anos em 2023. “Os últimos dados do IBGE apontam que 15% da população brasileira tem mais de 60 anos e, até 2050, a população idosa deve dobrar, chegando a 68 milhões de idosos”, acrescentou a apresentadora, ressaltando a consequente necessidade de cuidados abrangentes, ao longo da vida, e para toda a sociedade, em áreas como saúde, qualidade de vida, educação, mercado de trabalho, finanças, cultura e acessibilidade.
Após as palavras de boas-vindas do diretor-presidente da Bradesco Saúde e Mediservice Manoel Peres, subiu ao palco o médico-gerontólogo brasileiro Dr. Alexandre Kalache, PhD em epidemiologia, e um dos principais especialistas em envelhecimento no mundo. Curador e mediador do evento, ele destacou a importância da cultura do cuidado do início ao final da vida.
“Estamos vivendo mais, mas não necessariamente melhor”, avaliou Kalache, acrescentando que no Brasil os idosos estão envelhecendo com desigualdades e miséria. “A expectativa de vida tem que ser mais ‘longa’ mas também mais ‘larga’ de oportunidades, para que a gente possa trazer mais vida a esses anos”. Para Kalache, isso significa poder ter acesso pleno à cidadania, e passa por boas políticas públicas e pela promoção de um estilo de vida saudável desde cedo.
Aos jornalistas, Kalache falou sobre a importância de combater o “idadismo” – o preconceito baseado na idade, também chamado de etarismo –, ressaltando que é preciso que toda a sociedade participe. “Não basta não ser idadista. Você tem que colocar em prática, e a cada momento que você olhar uma manifestação de idadismo, você levantar a voz e acusar. Também não é um combate que caiba só a nós, pessoas idosas, porque os mais jovens também almejam envelhecer”.
“Precisamos trazer mais vida aos anos, e não apenas mais anos à vida” – Dr. Alexandre Kalache
Sem deixar de ressaltar a diferença significativa em relação aos países desenvolvidos, onde o enriquecimento precedeu o envelhecimento, Kalache destacou avanços e vantagens importantes do Brasil em relação a países da América Latina no que diz respeito ao cuidado com a população idosa, como o Estatuto do Idoso, o Sistema Universal de Saúde (SUS) e o direito a uma espécie de “pensão universal”, que garante uma renda mínima para a população idosa.
“Ter uma renda mínima muda tudo de figura, porque até pouco tempo, em termos históricos, o idoso dependia de alguém da família e era encarado como um peso, como mais uma boca para comer. Hoje, pelo contrário, os netos é que dependem do idoso para a boca deles estar cheia”, afirmou o especialista.
Autonhecimento
A atriz e escritora Bruna Lombardi, um dos destaques do evento, compartilhou sua visão sobre autocuidado, autoestima, e a importância de “sair do automático” e alinhar os vários aspectos da vida, na busca pelo equilíbrio. “Autocuidado não é luxo, é necessidade”, afirmou a atriz. “Para vivermos bem, é preciso harmonizar nossas células, nosso ser, com tudo que há em volta, com as pessoas, com nosso trabalho, com o planeta. É preciso alinhar também nossas diversas inteligências – física, mental, intuitiva, emocional, psíquica, energética e espiritual”, disse Bruna, antes de convidar o público a um momento de meditação guiada.
Na sala de imprensa do evento, a artista, de 71 anos, que sempre carregou o status de ícone de beleza, refletiu sobre a relação entre envelhecimento e imagem. Questionada se envelhecer é mais fácil ou mais difícil para ela, destacou o valor da empatia e da aceitação na jornada do envelhecimento. “É difícil para todos os seres humanos. Ou pode ser um caminho fácil, conforme você abraça isso. A vida é um grande abraço de você com você mesmo; de você com as pessoas que te cercam; e você com uma lição de humanidade: se você é uma pessoa que tem empatia, que olha para o outro, que compreende as diferenças, a diversidade, então você vai estar no caminho certo. Tudo começa no autoconhecimento”, disse a atriz.
Direitos Humanos da Pessoa Idosa
Presidente do Conselho do International Longevity Centre (Canadá), professor de psiquiatria na Universidade de Ottawa e psiquiatra geriátrico no Hospital de Ottawa, Dr. Kiran Rabheru apresentou ao público um panorama sobre saúde e bem-estar das pessoas idosas no mundo, com ênfase na agenda dos organismos internacionais.
No início da palestra, Rabheru afirmou que uma a cada três pessoas no mundo terão demência após os 80 anos de idade, e duas a cada três pessoas vão vivenciar o etarismo [ou idadismo].
Aos jornalistas, Rabheru destacou a importância do autogerenciamento do estresse para uma vida saudável. “O estresse literalmente incendeia o corpo. Chamamos isso de resposta inflamatória. Os biomarcadores de inflamação disparam quando o corpo está sob muito estresse. Portanto, precisamos encontrar maneiras de reduzir o efeito dele. Não vamos mudar o mundo, então o que podemos mudar? Há apenas três coisas que podemos controlar: o que pensamos, como nos sentimos e como reagimos e nos comportamos em relação ao estresse. O que eu controlo é minha própria atenção plena (mindfulness) e tranquilidade. Isso tudo combinado com atividade física, atividade social e melhoria da rede de conexões e amigos”, explicou o especialista.
“Todos meus pacientes recebem uma receita: a “regra dos vinte”. Eu desenho um sorriso para eles e digo: você tem que dar vinte sorrisos todos os dias, no mínimo; vinte minutos caminhando todos os dias; e vinte minutos conversando com alguém todos os dias. E aí os remédios, se você tomar, serão mais eficazes. Mas se você não sorrir, caminhar, conversar e praticar o mindfulness, nada mais o ajudará. Essa é minha receita. Simples, mas funciona”, disse o psiquiatra, que também é presidente da Comissão Lancet sobre Cuidados de Longo Prazo Centrados na Pessoa para Idosos.
Rabheru também falou sobre a falta de preparo da sociedade para lidar com o envelhecimento populacional e a importância de proteger os direitos humanos dos idosos, destacando violações ocorridas durante a pandemia.
“A pandemia revelou um preconceito implícito e preocupante em relação aos idosos. Vi várias violações em que aos mais velhos eram negados ventiladores, tratamentos médicos, cirurgias e atendimento domiciliar simplesmente devido à idade. Como sociedade, precisamos fazer uma pausa e pensar: é assim que queremos viver como seres humanos? Os direitos humanos não expiram quando você chega aos 65 ou 70 anos”, afirmou, indicando que um dos caminhos para diminuir o preconceito contra os idosos é promover o contato intergeracional.
Os direitos humanos não expiram quando você chega aos 65 ou 70 anos” – Dr. Kiran Rabheru
O especialista também criticou políticas e leis que não apoiam a prevenção e a promoção da saúde na terceira idade, enfatizando a necessidade de investir em cuidados preventivos, especialmente para os idosos saudáveis e aqueles em risco de adoecer. “Penso que os governos e os decisores políticos desconhecem as ferramentas que têm à sua disposição. Acho que existem muitas políticas e leis preconceituosas que, na verdade, promovem o envelhecimento não saudável. Elas não apoiam a prevenção e a redução de riscos em termos de cuidados de saúde”, disse o médico.
Nesse contexto, Rabheru argumenta que os recursos deveriam ser realocados para apoiar a comunidade e os cuidados de longa duração – ou seja, ao longo da vida –, a fim de evitar a sobrecarga do sistema hospitalar. “Não estamos prestando cuidados suficientes em casa ou na comunidade, mas estamos gastando milhares de milhões de dólares no sistema hospitalar”, apontou.
Rabheru conclamou a todos os participantes do Fórum a defenderem a causa das Pessoas Idosas, o que inclui fazer pressão junto a governantes e legisladores até que se estabeleça “uma necessária Convenção das Nações Unidas para os Direito dos Idosos, a exemplo das que já temos para as Crianças e para as Pessoas com Deficiência”.
Ecos da pandemia
Doutora em Medicina pela Unifesp e pesquisadora sênior da Fiocruz, a pneumologista Margareth Dalcolmo, uma das embaixadoras da vacinação no Brasil, trouxe ao palco do Fórum diversos tópicos relacionados à pandemia da COVID-19 e à importância da imunização. Ela começou mencionando a necessidade de se tomar cinco doses de vacina, especificamente a bivalente.
Dra. Margareth abordou a questão do negacionismo durante a pandemia de COVID-19, incluindo a “nociva retórica oficial” do então governo brasileiro. A médica destacou que a negação da pandemia não é possível, e que a COVID-19 deixou marcas profundas nas vidas das pessoas. Ressaltou a importância de confiar nas informações baseadas em evidências e na ciência para combater o negacionismo, e de promover a vacinação como uma medida fundamental para controlar a pandemia.
Ela contou sobre sua experiência como médica que tratou pacientes desde o início da pandemia, em um momento em que pouco se sabia sobre a doença. A pesquisadora também discutiu a ética do cuidado na saúde e a necessidade de uma abordagem mais atenciosa, especialmente em um país como o Brasil, que está envelhecendo rapidamente.
A médica enfatizou a importância da igualdade social, e como a distância entre idosos ricos e idosos pobres no Brasil é constrangedora. “É algo que não pode ser ignorado”, disse. Mencionou a necessidade de parcerias público-privadas para enfrentar desafios relacionados à saúde, como a COVID-19.
Ela também elogiou a imprensa brasileira, a iniciativa privada e a comunidade científica por seu papel durante a pandemia, e fez um apelo que ‘cérebros’ que foram embora do Brasil retornem ao país para contribuir com a ciência e a tecnologia.
Dra. Margareth encerrou sua palestra destacando a importância de se preparar para pandemias futuras – “não é uma questão de ‘se’, mas ‘quando’ teremos outra pandemia” – e ressaltando o impacto da COVID-19 no Brasil, com milhões de casos e óbitos, especialmente entre pessoas idosas não vacinadas. Ela enfatizou que esses números não são apenas estatísticas, mas algo para refletirmos.
Alegria de viver
Em um bate-papo com Cissa Guimarães, a atriz e cantora Zezé Motta, de 79 anos de idade, e mais de 55 anos de profícua carreira artística, compartilhou uma série de reflexões e experiências que abordam a perspectiva do envelhecimento com entusiasmo e vitalidade.
Uma das homenageadas desta edição do Fórum, Zezé primeiramente destacou a importância de encarar a longevidade com positividade e resiliência. Envelhecer, para ela, trouxe vantagens, como o fim de ansiedades desnecessárias da juventude, e a sabedoria conquistada ao longo dos anos.
No que diz respeito aos cuidados com a saúde e bem-estar, Zezé revelou seguir uma rotina disciplinada. Ela mencionou a atenção à alimentação balanceada, a prática de exercícios físicos e a dedicação em manter a autoestima em alta. Ela relatou que se exercita com um personal trainer e pratica caminhadas regularmente. A artista também compartilhou sua gratidão pela vida e a alegria de acordar a cada dia.
No campo profissional, Zezé Motta destacou sua agenda bastante ativa, revelando envolvimento em múltiplos projetos. Ela mencionou seu entusiasmo com a turnê do show “Coração Vagabundo”, no qual interpreta músicas de Caetano Veloso, um de seus ídolos. Também mencionou sua participação na novela Fuzuê, da TV Globo, e o envolvimento em filmes com lançamento em breve.
Rainha madura
Também homenageada do Fórum, a apresentadora e eterna rainha dos baixinhos Xuxa Meneghel, 60 anos, subiu ao palco para conversar com Cissa Guimarães e compartilhar sua perspectiva sobre o envelhecimento, destacando a importância de cuidar da saúde, aproveitar a vida e manter uma atitude positiva.
Ela falou sobre como as pessoas às vezes se preocupam demais com a aparência, e como isso não deve ser uma obsessão. “A gente é o que a gente come, a gente é o quanto a gente dorme. Quando a gente se cuida bem, a gente vê isso. Eu vejo isso no meu trabalho. Claro que você vê que a pele não é mais a mesma, o corpo, você não pode comparar com o que você tinha com 20 anos, senão tu fica doida. Mas eu faço exames e as pessoas falam: ‘Caramba, tá tudo certinho, teu colesterol, tá tudo certo’. Ou seja, eu realmente [cuido da] minha energia; eu fico sempre com criança, com animal, com bicho, fico me cuidando. Isso, eu acho que de alguma maneira mostra isso, te dá isso”.
Xuxa também mencionou seus projetos futuros e sua determinação em continuar trabalhando, enquanto desafia estereótipos relacionados à idade. “Estou me sentindo bem, e acredito que é isso que devemos fazer – buscar se sentir bem, fazer o bem e desejar o bem a todos, para alcançarmos o equilíbrio, o que é muito importante”, disse a artista.
Sete gerações
Em sua apresentação no Fórum, Jorge Nasser, Diretor Presidente da Bradesco Vida e Previdência e da Bradesco Capitalização, enfatizou as mudanças na expectativa de vida dos brasileiros, que aumentou significativamente nas últimas décadas. Ele mencionou que, nos próximos 30 anos, a população idosa no mundo mais do que dobrará, atingindo mais de 1,5 bilhão de pessoas, o que leva a um ambiente com sete gerações convivendo simultaneamente.
A palestra incentivou a inclusão de todas as gerações e a necessidade de criar um ambiente harmonioso para todas as pessoas que fazem parte do mesmo contexto social. Nasser também destacou a ideia de uma “geração ageless” que não se limita à idade, incentivando a convivência, aprendizado e colaboração sem preconceitos.
Outros destaques
O 16º Fórum da Longevidade também contou com a palestra do economista Fábio Giambiagi sobre os Desafios da Longevidade no Aspecto Financeiro. Para debater o assunto, subiram também ao palco o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, e o diretor da Bradesco Vida e Previdência, Estevão Scripilliti.
Também enriqueceram a programação do evento a palestra da publicitária Rita Almeida, que apresentou a pesquisa “Revolução da Longevidade”, e o momento musical da atriz e cantora Laila Garin, que cantou um medley com canções de Elis Regina, personagem que ela interpreta no espetáculo “Elis, A Musical”, em cartaz na capital paulista.
O Portal Saúde Brasília participou do evento a convite do Grupo Bradesco Seguros