Elton Alisson | Agência FAPESP – Ao começar a desenvolver, em 2021, um tecido biodegradável capaz de neutralizar bactérias e vírus, os pesquisadores da startup Protech, de São Carlos, vislumbraram inicialmente um mercado óbvio para aplicação do material em tempos de pandemia de COVID-19: o de máscaras faciais protetivas. Após participar do 20º Programa PIPE em Empreendedorismo de Alta Tecnologia (PIPE Empreendedor), o fundador da empresa, Thiers Massami Uehara, identificou, contudo, que a tecnologia pode ter diversas outras aplicações.
“Constatamos que o tecido filtrante pode ser empregado, além de em máscaras faciais, também em aventais cirúrgicos, sistemas de filtragem de ar-condicionado de aeronaves, de hospitais e indústrias, bem como em fraldas infantis, geriátricas e absorventes íntimos”, disse Uehara, durante o evento de encerramento do treinamento, realizado em maio.
Segundo o pesquisador, o tecido com elevada filtragem que estão desenvolvendo com apoio do PIPE é composto por fibras nanoestruturadas que se decompõem em um período bem menor do que os materiais utilizados comercialmente, além de ter propriedade biocida.
O material é obtido por meio de nanopartículas de prata depositadas em fibras poliméricas em escala nanométrica (da bilionésima parte do metro), produzidas por meio de uma técnica chamada de fiação por sopro em solução.
Testes feitos no laboratório de virologia do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indicaram que o material demonstrou ser capaz de eliminar o SARS-CoV-2.
“Com esse laudo pudemos iniciar a divulgação da aplicação dessa manta filtrante para outros segmentos de mercado”, disse Uehara.
Com base nas cem entrevistas que realizaram durante o PIPE Empreendedor com profissionais da área da saúde, além de gestores e analistas de qualidade e inovação nos segmentos de cuidados pessoais (healthcare) e de equipamentos de proteção individual (EPIs), os empreendedores da Protech mudaram o modelo Canvas de negócios da empresa e chegaram a importantes conclusões. Uma delas foi a de que manterão o foco inicial de comercialização do produto para o segmento de máscaras faciais e aventais cirúrgicos.
“Pretendemos estabelecer parcerias com empresas consolidadas nesse segmento e, posteriormente, expandir a aplicação para filtros para ar-condicionado de aeronaves, automóveis e indústrias alimentícias e farmacêuticas, além de em fraldas infantis, geriátricas e absorventes íntimos”, afirmou Uehara.
De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, antes da pandemia de COVID-19 o mercado de máscaras cirúrgicas estava avaliado em US$ 3 bilhões, com produção média anual de 1,1 bilhão de unidades. No Brasil, esse mercado movimentou em 2019 aproximadamente US$ 35 milhões com a comercialização de mais de 27,4 milhões de unidades de máscaras por ano.
“Ainda não há estimativas exatas do valor desse mercado após a pandemia, mas, obviamente, aumentou muito”, disse Uehara.
Texto originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.