De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 720 milhões de pessoas sofrem com doenças mentais em todo o mundo. Ainda segundo estimativas da OMS, o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no mundo: 18,6 milhões de brasileiros, ou seja, 9,3% da população. Já segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), cinco entre as dez maiores causas de afastamento do trabalho são por transtornos mentais. Entre eles, os mais comuns são a depressão e o transtorno de ansiedade.
Mas o que isso tem a ver com o intestino? Muita coisa, já que o intestino exerce uma grande influência sobre o cérebro. O sistema digestivo também produz neurotransmissores que podem ser definidos como mensageiros e transportam mensagens entre os neurônios e as outras células do corpo.
Por exemplo, estima-se que seja produzida no intestino aproximadamente 90% da serotonina, um neurotransmissor conhecido como “hormônio da felicidade” por ser responsável pela sensação de bem-estar, prazer e felicidade. Esse hormônio é mais conhecido por agir no Sistema Nervoso Central (SNC) e, por isso, para alguns, pode soar estranho a maior parte dele ser produzida no intestino. Ao agir no SNC, a serotonina auxilia no equilíbrio do humor, do sono, da aprendizagem e da memória, já no intestino, ela auxilia nos movimentos peristálticos, entre outras funções importantes para manutenção do organismo. A baixa concentração de serotonina pode causar problemas de humor, dificuldades para dormir, ansiedade e depressão.
Outro importante neurotransmissor é a dopamina, também relacionada com o humor e o prazer, e a estimativa é de que cerca de 50% dela seja produzida no intestino também. Esses hormônios são conhecidos por elevar nossa motivação, confiança, sensação de tranquilidade, calma, preparando a pessoa para lidar com as tensões da vida cotidiana, entre outros aspectos. Sendo assim, faz sentido a relação entre o intestino, o cérebro e os transtornos mentais, distúrbios neurais, psicológicos e emocionais, concorda?
O intestino, apelidado de “segundo cérebro”, funciona de forma autônoma, ou seja, ele não precisa dos comandos do Sistema Nervoso Central. Isso significa que tem autonomia para tomar decisões e controlar diretamente o sistema digestivo. Mas, embora funcione de forma independente, ele se comunica com o SNC e está diretamente ligado ao encéfalo por meio do nervo vago, uma estrutura que liga o sistema gastrointestinal à cabeça. O intestino aloja trilhões de bactérias, boa parte delas envolvida em processos cruciais para o bom funcionamento do organismo. Então não dá para dizer que ele é só um tubo por onde a comida passa. Alguns estudos, inclusive, relatam a forte conexão entre estar ansioso – ou em situação de forte estresse – e sentir aquele friozinho na barriga – ou necessidade de ir ao banheiro –, tamanha é a interação entre intestino e cérebro.
Existem hipóteses que ainda precisam ser mais estudadas para fins comprobatórios, mas que sugerem que a microbiota do intestino (as bactérias que povoam o intestino), antigamente conhecida como “flora intestinal”, quando alterada por um problema chamado disbiose, pode levar a problemas que vão se desenrolar no cérebro, com sérias repercussões para a saúde e qualidade de vida do indivíduo.
Hoje já sabemos da existência de algumas substâncias como os psicobióticos: probióticos de bactérias saudáveis, para melhorar a saúde mental. São microrganismos vivos que produzem benefícios à saúde e apresentam efeitos que vão além do sistema gastrointestinal, atingindo também o Sistema Nervoso Central, podendo promover o alívio do estresse, ansiedade e depressão, por exemplo.
Ainda há outro fator importante, de acordo com a Sociedade Brasileira de Imunologia: o intestino aloja a maior parte de células imunes do nosso corpo. Algumas pesquisas relatam que isso represente cerca de 70% das células do nosso sistema imunológico vivendo no intestino. Sabendo disso tudo, não restam dúvidas da sua importância para o bem-estar, pensando na saúde mental e imunológica. Então fica o convite de seguir dicas para manter em ordem esse órgão tão valoroso. Para isso, basta ter uma dieta diversificada e de qualidade, reduzir o nível de estresse, evitar o consumo exagerado de álcool e cafeína, bem como dormir bem. Seu intestino – e sua saúde mental – agradecem.
*Fabiana da Silva Prestes é professora dos cursos de tecnologia e bacharelado em Gerontologia do Centro Universitário Internacional Uninter
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